O começo de um despertar...

Boa madrugada! São 01:30 da manhã, do dia 02 de maio de 2019, e aqui estou eu, sem sono, escrevendo pela primeira vez, em anos, nesse blog. Mudei um pouco o motivo das postagens, mas continuo a me perguntar: o que dá sentido à vida, afinal? Bem, algumas pessoas próximas me falaram que deveria escrever sobre minha história. Não que seja tão importante, ou melhor ou pior do que outras, mas acredito que pensem que toda história que envolve superação, é válida de ser contada, então aqui estou eu. Começarei lá na adolescência, quando decidi que queria, enfim, morar com meu pai e ele aceitou. A depressão aflorou. Acredito que motivada pela briga financeira instaurada numa audiência de família, realizada no dia do meu aniversário. Meus 17 anos, sendo “comemorados” numa sala de audiência – desaforos ditos pela tia, minha mãe discutindo a pensão da minha irmã que tinha que ser majorada – e eu ali, assistindo a tudo de camarote, sem que se percebesse o mal que se fazia a uma adolescente que nem ali queria estar. Mas porque eu estava lá? Me pergunto até hoje, o porquê de o juiz não deferir o pedido do advogado do meu pai de adiar a audiência, pelo fato de que ele exigia me ouvir para ter certeza de que eu queria mesmo morar com meu genitor, e não que eu estava sendo coagida de alguma forma. Algo, para mim, até hoje, irrelevante, uma vez que eu já tinha 17 anos. Além de ser obrigada a ir apenas dizer que sim, eu queria ir, isso se deu no dia do meu aniversário, com o primeiro presente dado pela minha tia por telefone me chamando de filha ingrata! Após eu ter dito o que o magistrado queria ouvir, começou-se a celeuma pela pensão da minha irmã. Minha presença ali foi totalmente ignorada: pela minha mãe, que parecia mais preocupada com a pensão perdida do que comigo, pelo meu pai que permaneceu calado e omisso em relação a minha presença ali, pelos advogados, pelo juiz... Afinal, para ouvir tudo eu não era mais criança, para quê se importar, não é mesmo? Essa é uma das razões que me faz querer ser juíza, uma forma de tentar fazer pelos outros o que não fizeram a mim. E sim, ainda sinto vontade de procurar o tal juiz para saber se ele tem ideia do mal que ele me fez naquele dia... A depressão não “nasceu” aí, como eu disse acima, aflorou. Sempre fui uma criança introspectiva, com a autoestima no chão, chorava por tudo, achava que as pessoas não gostavam de mim. Talvez tenha se dado pela relação que sempre tive com meus pais, principalmente com minha mãe. E o fato deles terem se separado quando eu ainda era muito nova, não sei ao certo... o que sei é que sempre vejo nas fotografias antigas um olhar vago, triste ou avermelhados pelo choro não contido. Enfim, com tantas mudanças, de endereço, de convívios, acabei mudando meu comportamento, principalmente, o escolar: de aluna aplicada que só tirava notas boas à aluna que vivia na final, com notas baixas e “matando” aulas. Tinha amigos, muitos, até. Namorei, como qualquer adolescente, ia a festas também, mas sentia que dentro de mim, algo não estava bem. Um dia pedi socorro a psicóloga do meu irmão mais novo, num dia que precisei levá-lo. Só lembro de ter dito a ela que precisava dela, da ajuda dela, e chorei, muito, como sempre. Muita terapia se passou, de repente, uma crise de ansiedade. Uma festa num interior, onde estávamos eu, meus primos, minha mãe e amigos dela. Eu queria ir embora, não estava gostando do lugar apertado, da música, da fumaça... Mas minha mãe queria ir embora e começou a insistir que era para eu ficar lá, porque eu precisava ser receptiva com as filhas da amiga dela. Mesmo eu dizendo que não queria, ela saiu e me largou lá. Comecei a passar mal, os lábios começaram a formigar, taquicardia, suor frio, quase desmaiei e não conseguia respirar, saí correndo, precisava de ajuda! A amiga dela, enfermeira, me ajudou. Lembro dela dizendo que aquilo era pânico, ansiedade... Minha terapeuta, ao saber do ocorrido diagnosticou como Síndrome do Pânico! Pronto, mais essa! Agora, além de psicóloga, estava eu sendo tratada por psiquiatra, com antidepressivos e ansiolíticos. Era meu último ano no Ensino Médio, meu pai estava pagando a formatura e eu queria viajar com a turma para Porto Seguro, mas não tinha coragem de pedir, pois ele já estava tendo despesas com uma festa. Fui encorajada pela psicóloga, seria bom para mim, afinal! Ele aceitou e eu fui. Lá, para variar, tive crise de pânico, algo que havia se tornado frequente naquela época. E escutei daquelas que eu mais amava, minhas amigas, que eu não tinha nada, que era frescura minha e que eu queria aparecer. Um amigo foi me defender, namorado de uma delas. Bastou isso para ser acusada de traíra, queria agora roubar o namorado alheio! Fui, depois disso, ao fundo do poço, não enxergava que existiam amigos verdadeiros ao meu redor que queriam de fato meu bem, só via na minha frente a frustração de ter dedicado tempo e carinho a pessoas que, no fundo, nunca se importaram comigo, como sempre eu fazia. Acordei um dia determinada: não tinha mais porque viver, aquela dor no peito, aquela angústia, tinha que acabar. Pensei então em me jogar da janela do meu quarto, do 4º andar, mas tinha tela, não consegui tirar e não dava para ir procurar nada para cortar, pois meu pai já estava me chamando para ir ao Colégio. Tomei remédios, muitos remédios, todos que eu tinha no meu quarto, afinal, além de antidepressivos e ansiolíticos, haviam muitos anestésicos e relaxantes musculares, pois eu vivia com uma dor nas costas que ninguém nunca descobriu o que é e cólicas menstruais fora do comum, com sangramentos parecidos com hemorragias, que descobri apenas dez anos depois que tinha endometriose (assunto para outro post). Fui ao colégio como se nada tivesse acontecido, pois não poderia deixar meu pai descobrir, com todos eles na bolsa, no meio de uma aula, quando estavam todos em sala, fui ao banheiro, engoli todos com água da torneira, de uma vez, e voltei para a sala. Comecei a ficar sonolenta, não sei ao certo como estava fisicamente, pois eu tinha a impressão de estar disfarçando bem, mas o professor me achou estranha e perguntou o que estava acontecendo, uma amiga da sala então correu para chamar ajuda. Ela sabia do meu hábito de escrever, principalmente para desabafar e achou! Lá estava no meu caderno, numa folha lá no fim, o quanto eu não aguentava mais viver. Ela supôs: “Ela fez algo, tomou algo!” Foi, então, procurar no banheiro, nos lixeiros. Lá estavam várias cartelas vazias! Fui socorrida, apagada. Acordei arrependida e chorando. Agradeço a Deus, pois sei que essa amiga, hoje médica, uma excelente médica, por sinal, salvou minha vida e hoje salva vidas de outras muitas pessoas em seus plantões. Não podia ter se tornado outra coisa. Esse primeiro post é dedicado a ela, Lina Machado, que me chama de chuchu e ninguém sabe porquê. Posso não ser a amiga mais presente, a melhor amiga dela, mas sempre esteve e estará no meu coração. Obrigada!

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